“Pênis torto”
Dr. Francis Khouri explica as abordagens que podem ser feitas em casos de Doença de Peyronie, e enfatiza a importância da procura do urologista no início do quadro.
DOENÇA PEYRONIE
Doutor, meu pênis está torto e agora? Este é o relato dos pacientes que nos procuram, e o diagnóstico é: doença de peyronie (DP) ou induratio pênis, que é uma lesão fibrótica, de origem desconhecida que afeta a túnica albugínea dos corpos cavernosos, de forma localizada, que pode resultar em deformidades penianas, dor, disfunção sexual erétil e perda do comprimento peniano. Esta doença responde por um impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes, tendo uma prevalência de 3,2%, muito similar a doenças como diabetes ou cálculos renais. Apesar de ser reconhecida como uma doença há cerca de 500 anos por Fallopius e descrita há 250 anos por François Gigot de La Peyronie, a abordagem não cirúrgica da DP é bastante controversa, porém, nos estágios iniciais da doença, quando o paciente nos procura com dor peniana associada a leve curvatura do pênis, é bastante razoável iniciar o tratamento de forma não invasiva. O tratamento cirúrgico deve ser instituído após 12 meses de estabilização da doença, isto é, ausência de dor ou progressão dos sintomas neste período. Após a confirmação da DP podemos oferecer a estes pacientes algumas opções terapêuticas como: tratamento oral, tratamento intra-lesional, aplicações tópicas, litotripsia extracorpórea, dentre outras.
Tratamento oral
1 – Vitamina E: é uma das drogas mais utilizadas no tratamento da DP. Entretanto, não existe evidência clínica de que ela seja realmente eficaz.
2 – Potaba: é o para-aminobenzoato de potássio que exerce um efeito anti-inflamatório e anti-fibrótico através da estabilização da atividade serotonina-monoamino-xidase no tecido e um efeito inibitório direto na secreção de glicosaminoglicanas pelos fibroblastos. Melhora a dor, diminui a placa fibrótica e melhora a curvatura; esses são os resultados descritos em diversos estudos. Acredita-se que o melhor efeito do potaba seria na não progressão da doença.
3 – Tamoxifeno: é uma medicação de efeito anti-estrogênico utilizada no tratamento do câncer de mama.
4 – Colchicina: é um agente anti-inflamatório utilizado em diversas patologias. Sua utilização na DP é devida à sua ação como agente antimicrotubular, que inibe a secreção de colágeno pelos fibroblastos.
5 – Propoleo (própolis): é uma medicação derivada do mel das abelhas, rico em bioflavonóides. Os estudos realizados em Cuba demonstram melhora significativa na curvatura peniana, tamanho da placa e na dor local.
Outras drogas já foram testadas no tratamento da DP como: ciproterona, triptorelina, alopurinol, orgoteína, metilpredinisona, etc. Todas estas sem conseguir comprovar qualquer efeito terapêutico para a DP.
Tratamento intra-lesional
O tratamento intra-lesional da DP não é uma idéia nova. Já no final do século XIX foram realizadas tentativas de dissolver a placa com substâncias à base de mercúrio ou iodo, assim como fibrinolisinas e dimetil sulfoxido (DMSO). O objetivo é obter uma alta concentração local da droga, diminuindo os efeitos colaterais sistêmicos. As drogas mais utilizadas são: verapamil, interferon, colagenase, corticóides.
* Interferon: o efeito do inteferon alfa e alfa 2 no fibroblastos proveniente do cultivo de células derivadas da placa de peyronie causou inibição da proliferação fibroblástica e da produção de colágeno. Vários estudos demonstram alívio da dor, diminuição do tamanho da placa e da curvatura do pênis logo após as primeiras injeções.
* Corticosteróides: apresentam melhoras após 8 a 10 aplicações peri-lesional, porém apresentam resultados melhores na fase inicial da patologia.
Concluindo, podemos dizer que todas as opções terapêuticas devem ser discutidas em conjunto com o paciente, haja visto, o comportamento da doença e os possíveis insucessos decorrentes da sua terapia.
O tratamento clínico é demorado e tem duas funções principais: aliviar a dor e corrigir a curvatura peniana. Quando não se obtém resultados satisfatórios, deve-se oferecer ao paciente o tratamento cirúrgico que tem como objetivo retificar o pênis, corrigindo assim, a curvatura e permitindo o retorno do paciente à sua atividade sexual. A cirurgia, porém é indicada somente após a estabilização da curvatura, da placa fibrótica e da dor. O tratamento cirúrgico é mais bem indicado nos casos mais complexos, com curvaturas importantes, que estejam dificultando, ou mesmo, impedindo a penetração peniana, dificultando a vida sexual do paciente.